Audiência Pública discute história e memória do Município

por adm publicado 04/12/2023 17h35, última modificação 05/12/2023 08h30

Aconteceu, no plenário da Casa Legislativa, a Audiência Pública com o tema “História, Memória e Verdade em Viçosa: resgatando o passado”, por intermédio do Requerimento nº 065/2023 de autoria da Vereadora Jamille Gomes (PT).

Compondo a Mesa Diretora ao lado de Jamille, que dirigiu os trabalhos, estiveram Nilmário Miranda, assessor especial de Defesa da Democracia, Memória e Verdade do Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania (MDHC); Thomas Medeiros, secretário de Cultura, Patrimônio Histórico e Esportes de Viçosa; Francisco Simonini, aposentado desde 1991, ex-professor da Universidade Federal de Viçosa (UFV) no Departamento de Educação, no Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes; José do Carmo Araújo, historiador, professor na UFV e integrante do Instituto Reäfrica de Memória do Negro e do Índio; Daniela Toledo Coutinho, assistente de Documentação e Informação da Casa Legislativa. Compondo a Mesa Central, esteve a Professora do Departamento de Educação da UFV, Joana D’arc Germano. Também esteve presente no plenário, o Vereador Marcos Fialho (sem partido). 

Dando início a audiência, de forma mais geral, Nilmário Miranda, fez uma contextualização histórica, sobre acontecimentos do Século XX que marcaram o mundo todo, como a II Guerra Mundial e a Corrida Armamentista, esta, que ocorreu durante a Guerra Fria. Indo nessa direção, ele também falou sobre a criação e importância na ONU (Organização das Nações Unidas). “Na época de sua criação, um terço da população era escravizada. As mulheres não tinham direito nenhum, mulheres e crianças não eram considerados sujeitos de direito”, explicou. Nesse sentido, Nilmário alegou que houve uma perda do processo humanitário que aconteceu por todo o século anterior. “Logo depois da eleição que elegeu Jair Bolsonaro, nos EUA, nos jardins da Casa Branca, ele falou: ‘Olha, nós chegamos para desconstituir o sistema e desmontar a Constituição’. Ou seja, para quebrar o globalismo, e todo o processo humanitário do pós-guerra. Deu instrumentos, possibilidades de viver e liberdade e democracia, com justiça, que todo ser humano merece”, completou o assessor especial da Defesa da Democracia, Memória e Verdade. 

Logo após, Joana D’arc discorreu especificamente sobre o município de Viçosa, contando sobre a história do Coluni (Colégio de Aplicação da Universidade Federal de Viçosa). “Eu trabalhei no meu doutorado, a história de criação do Coluni. Ele foi autorizado em 1965, e iniciou suas atividades em 1966, mesmo período da Ditadura Militar”, explicou a professora. Nessa perspectiva, Joana ainda alegou que na época foi criado o Colégio apenas para estudantes de terceiro ano, e que ele recebia enorme reconhecimento por parte dos representantes militares. “Os alunos já saiam do Coluni, ambientados com a Universidade e com uma preparação acima da média. O que fazia com que eles chegassem mais preparados para o curso de Agronomia”, alegou. Para finalizar, a professora relatou que essa é uma importante contribuição para pensarmos no processo de educação em Viçosa e o papel da UFV nesse contexto. 

Em seguida, foi a vez de Francisco Simonini, que explanou sobre a história do Município. “Arthur Bernardes, ele chega em um momento em que toda a cultura brasileira se fundamentava na cultura europeia, e ele chega nos EUA, trás o PH Rolfs, para criar a ESAV (Escola Superior de Agricultura e Veterinária)”, disse  Francisco. Continuando seu raciocínio, a ESAV foi muito importante para Viçosa, pois trouxe professores e pessoas de vários países, contribuindo para uma Viçosa multicultural’. Ainda em sua fala Francisco falou sobre a importância do Município, no contexto da exploração do ouro, em que Viçosa, era um atalho, que ligava Ouro Preto ao Rio de Janeiro. Além disso, falou da transformação que a UFV passou, deixando de ser uma ‘escola voltada para a agricultura e veterinária, e se tornando realmente uma Universidade’. 

Dando continuidade, José do Carmo, falou sobre o confisco de terras indígenas e africanas, no contexto da Zona da Mata, e também, onde várias tribos que viviam na região, foram dizimadas. “São situações que precisamos trazer para discussão, justamente pelo fato de que na região de Viçosa, o confisco se deu pela expansão, que aconteceu até pouco tempo atrás. (...) Conseguimos recuperar algumas terras de São José do Triunfo, e alguns moradores alegam que são de herança europeia, mas na cartografia consta apenas que eram dos povos indígenas que acolheram os europeus”, explicou José. 

Ao fim da audiência, Jamille falou sobre uma importante medida que deve ser realizada. “Viçosa precisa de um diagnóstico, quantas ruas existem de ditadores? Quais os monumentos que lembram essa história que deveria ter sido superada? Acho que o que fica de encaminhamento, é a necessidade de um ‘Arquivo Público Municipal’ de um espaço público que o Executivo se responsabilize em construir e trazer a memória, até para conhecermos esse confisco que o José do Carmo mencionou. O principal é fazer um levantamento com esses dados”, alegou a parlamentar. 

A sessão completa já se encontra disponível em nosso canal do YouTube.

*texto do estagiário Oscar Berg sob a supervisão de Mônica Bernardi