Vereadora pede explicações sobre jovens do Buieié que foram esquecidos após o ENEM
Na reunião Ordinária da segunda-feira (04), o assunto central pautado pelos parlamentares foi sobre o esquecimento, por parte da empresa União, responsável pelo transporte público de Viçosa, de jovens moradores da Comunidade Quilombola do Buieié, após a realização da prova do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM). A Vereadora Jamille Gomes (PT) solicitou, por intermédio do Pedido de Informação nº 04/2024, esclarecimentos sobre o ocorrido e as medidas de reparação que a empresa irá adotar a fim de corrigir os danos aos estudantes e à comunidade, além de questionar o que vai ser alterado para que o erro não volte a acontecer.
Em contexto, a Comunidade Quilombola do Buieié está localizada a cerca de 20 km do centro da cidade de Viçosa, e é formada por descendentes de escravizados africanos, cujo objetivo é preservar suas origens culturais e proporcionar espaço que simboliza luta e resistência.
O Vereador Daniel Cabral (PCdoB), vice-presidente da Casa, iniciou a sua fala ressaltando o tema da redação cobrada no ENEM: "Desafios para a valorização da herança africana no Brasil" e, de acordo com o parlamentar, tem diretamente a ver com que aconteceu com os jovens do Buieié no domingo. “É lamentável como esses jovens foram tratados. É importante destacar que isso precisa mudar dentro do Município”, afirmou Daniel, que também evidenciou que é preciso debater outros assuntos atrelados ao ocorrido, tais como o 'passe livre'. O vereador finalizou repudiando o ocorrido e cobrando um posicionamento da empresa União.
Marcos Fialho (PP) disse que "a primeira coisa que Câmara tem que fazer é buscar cobranças a empresa de transporte, por que é uma falha enorme”. O vereador, que procurou representantes da União, afirmou que a empresa “já se dispôs a arcar com todas as despesas e estão procurando as pessoas que ficaram descobertas desse desencontro da empresa União”, além disso, o Marcos contou que, para o segundo dia de prova, que será no domingo (09), a União já organizou uma equipe para auxiliar todos os estudantes que vão realizar a prova e utilizar o transporte para que o erro não se repita.
O Vereador Bartomélio da Silva Martins (Professor Bartô) (PT) também comentou sobre a gravidade do assunto. “Alguns vereadores já trouxeram aqui que a empresa União se colocou à disposição, este é o mínimo que a empresa deve fazer em relação a esses estudantes”, disse. O parlamentar também alegou que a construção dos horários deve ser repensada, e contou que na Comunidade das Coelhas o ônibus estava programado para ir e não apareceu para pegar os alunos: “os alunos que precisam fazer a prova, tiveram que pagar o livre”, afirmou Bartô, cobrando que esses alunos sejam ressarcidos.
CONSCIÊNCIA NEGRA
As questões raciais também estiveram em pauta, na fala dos parlamentares, durante a reunião. No uso da Tribuna Livre, Maria do Carmo Viana (primeira na montagem de fotos), presidente do Conselho Municipal de Promoção da Igualdade Racial (COMPIR), falou sobre a falta de recursos para a realização 14ª Marcha da Consciência Negra de Viçosa, que acontecerá na dia 20 de novembro, data em que é celebrado o 'Dia da Consciência Negra' e tornou-se Feriado Nacional. De acordo com Maria do Carmo, este é um “dia marcado pela resistência da população negra, a cultura negra e o protagonismo negro na luta por direitos”. Além disso, a presidente do COMPIR reiterou a importância da Marcha, afirmando que ela deve acontecer por ser “uma data muito importante para a gente que é negro e a luta foi muita grande para conseguir essa data".
O Vereador Edenilson Oliveira (PSD) destacou a importância da fala de Maria do Carmo e disse que “a luta não é só do negro, mas de todos os brasileiros em defesa daqueles que sofrem dentro da nossa sociedade”, declarando que a Marcha deve acontecer e se colocando à disposição. Jamille Gomes ressaltou a importância do Feriado Nacional e afirmou que "ao mesmo tempo que celebra uma conquista, que é o tema do debate do ENEM em relação à herança africana na nossa identidade, hoje (11), por exemplo, a Casa do Empresário solta um nota dizendo que não vai aderir ao 20 de novembro, que é feriado nacional. É a primeira vez, no Brasil, que essa data é feriado. (...) A gente vê com muita lástima a Casa do Empresário de Viçosa expor essa nota porque é uma data de importante reflexão para a construção da nossa identidade". Além da parlamentar, Daniel Cabral, Marco Cardoso (Marcão Paraíso) (PRD) e o Professor Bartô também destacaram a importância do feriado do dia 20 de novembro ser respeitado e realizado no dia previsto.
Marcão ainda expressou seu apoio à Marcha e à fala de Maria do Carmo, afirmando que “temos que ter o feriado, temos que ter aqui no Brasil uma reflexão enorme sobre esse assunto, que sabemos realmente a quantidade de racismo que muitas pessoas ainda sofrem”. A Vereadora Marly Coelho (PRD) ainda disse sobre a importância de se falar sobre a Consciência Negra para além do dia 20 de novembro, e afirmou “que a luta deve ser de todos, não só de negros”.
Por fim, o Vereador Professor Bartô contou que “a gente alocou, enquanto Emenda Impositiva, no FUNRAÇA, que é o Fundo Municipal do Conselho da Promoção da Igualdade Racial, a quantia de 50 mil reais. A gente cobra do Executivo para que ele possa colocar o recurso à disposição para a realização da Marcha”. Além do recurso, o parlamentar falou sobre a importância de ter todas as polícias públicas à disposição para a realização da Marcha.
Vale ressaltar que, diante dos manifestos a Casa do Empresário irá manter o feriado de 20 de novembro (quarta-ferira).
*texto da estagiária Cecília Ribeiro sob a supervisão de Mônica Bernardi