Gestores apresentam balanço da intervenção nos hospitais de Viçosa e destacam avanços

por adm publicado 12/02/2025 10h14, última modificação 12/02/2025 10h14
Taxa de ocupação aumenta, faturamento melhora, mas dívidas ainda preocupam a nova administração

Grande parte da reunião ordinária da última segunda-feira, dia 10, foi dedicada à apresentação do balanço da intervenção administrativa nos hospitais São João Batista (HSJB) e São Sebastião (HSS), em andamento desde outubro do ano passado.

A presença dos gestores da empresa Health Consultores Associados, responsável pela nova gestão unificada, atendeu a um requerimento do vereador Marco Cardoso (PRD). Em sua justificativa, Cardoso relembrou os desafios enfrentados nos últimos anos, mencionando a luta para viabilizar a intervenção e a falta de credibilidade que impedia o envio de recursos. “Foram quatro anos perdendo dias de sono, pessoas morrendo por falta de atendimento. A cada dia, a situação piorava”, declarou.

Cardoso lembrou que a intervenção aconteceu depois que a Câmara enviou uma representação ao então Procurador-Geral do Estado de Minas Gerais, Jarbas Soares Júnior, relatando a situação. “Os deputados não queriam enviar dinheiro porque a credibilidade estava zero. Já estávamos no colapso, à beira do fechamento dos dois hospitais”, resumiu.

Elis Regina Guimarães, consultora sênior da Health Consultores, destacou que a intervenção visa tornar os hospitais complementares em vez de concorrentes. Segundo ela, a repetição de especialidades em ambas as unidades comprometia a contratação de médicos e gerava custos desnecessários. Uma das medidas implementadas foi a integração da administração de setores como recursos humanos e suprimentos, reduzindo despesas operacionais. “Os hospitais não podem concorrer entre si. O tipo de gestão da assistência tem que ser complementar e não competitiva. Não podemos permitir que especialidades se repitam nos dois hospitais, pois não conseguimos médicos suficientes”, afirmou.

Segundo Elis, um dos principais focos da nova administração é a ampliação das especialidades médicas oferecidas nos hospitais, garantindo uma assistência mais abrangente e qualificada que resulte em mais internações e, como consequência, mais receita para os hospitais.
A consultora também ressaltou a necessidade de aprimorar o fluxo de informações e modernizar o sistema de faturamento hospitalar. “Nenhum hospital filantrópico se sustenta sem uma receita não operacional, como emendas parlamentares e outros repasses extras”, explicou. Ela enfatizou que, para garantir a continuidade dos serviços, é essencial que os hospitais aumentem o faturamento dentro da competência do período, garantindo que os repasses federais e estaduais sejam mantidos.

Outro ponto abordado foi a regulação dos pacientes. Elis explicou que os hospitais não têm governabilidade sobre quem atende. “A urgência é regulada a nível estadual pelo SAMU e pelo SUS Fácil. Os hospitais não escolhem pacientes; os leitos são ocupados conforme a disponibilidade indicada pelo sistema”, ressaltou.

HSJB

Segundo o balanço apresentado, o HSJB conta atualmente com 86 leitos e registrou um aumento na taxa de ocupação de 40% para 79,9% desde o início da intervenção. Segundo Elis Regina, a meta é atingir uma ocupação superior a 85%, considerada essencial para a sustentabilidade financeira do hospital.

Entre dezembro de 2024 e janeiro de 2025, houve um crescimento de 25,5% nas internações, e o faturamento na competência passou de 14% para 42%. No entanto, as dívidas do hospital ainda são expressivas, com R$ 16,85 milhões em títulos protestados, dos quais R$ 14,6 milhões são débitos com a Fazenda Nacional e impostos. Além disso, foram identificadas divergências entre os valores contratuais e os pagamentos efetivos aos médicos, sendo necessário um ajuste nas finanças.

Para fortalecer as receitas, o contrato com o município foi ampliado em 61%, passando de R$ 30 milhões para R$ 46,8 milhões. Com esse reforço financeiro, foi possível reativar serviços de imagem, como tomografia e ultrassonografia, que estavam ociosos.

HSS

O HSS, que possui 116 leitos, enfrenta dificuldades para aumentar sua taxa de ocupação, atualmente em 57,6%. Uma das principais barreiras era a limitação no atendimento da clínica médica vinculada aos preceptores e residentes da UFV, que aceitava apenas 16 pacientes. Com a reestruturação, esse número foi ampliado para 30 leitos clínicos, tornando o HSS referência para o pronto atendimento.
Apesar das melhorias, o hospital ainda opera com um déficit significativo. Em 2023, o prejuízo foi de R$ 12 milhões, e as dívidas somam R$ 10 milhões, sendo R$ 7,6 milhões em impostos. O faturamento na competência, no entanto, avançou de 27% para 58%.

O contrato do HSS com o município também foi reajustado, passando de R$ 38,8 milhões para R$ 45,2 milhões, um acréscimo de 14%. No entanto, a consultora alertou que, mesmo com o equilíbrio operacional, a dívida acumulada exige a captação de recursos extras para ser equacionada.

Ações e perspectivas futuras

Como parte do plano de reestruturação, foram implementadas mudanças no organograma dos hospitais, um novo modelo de governança e um planejamento estratégico baseado na análise SWOT (forças, fraquezas, oportunidades e ameaças). Além disso, foi estabelecida uma identidade organizacional com foco na ampliação de especialidades para atrair mais pacientes e aumentar a receita.

Recentemente, a equipe dos hospitais participou de uma reunião em Belo Horizonte com o secretário de Estado de Saúde, Fábio Baccheretti. Entre os pleitos apresentados ao Estado estão uma unidade de Acidente Vascular Cerebral (UAVC) com 10 leitos e a oferta de um serviço de hemodinâmica para procedimentos cardiovasculares de alta complexidade, tanto eletivos quanto de urgência. Além disso, o hospital já dispõe de um serviço de oncologia para saúde suplementar, com 62 vagas imediatas disponíveis, e busca habilitação do governo estadual para estender essa cobertura para pacientes do SUS.

Segundo Elis Regina, o sucesso da intervenção dependerá da continuidade das medidas implementadas e do apoio dos entes federativos. “A saúde é uma responsabilidade compartilhada entre os três poderes. Sem essa colaboração, é impossível garantir um atendimento de qualidade para a população”, concluiu.

Após a apresentação, os vereadores destacaram a evolução da gestão dos hospitais, mas também apontaram desafios a serem enfrentados. Marco Cardoso (PRD) elogiou a organização da atual administração e ressaltou a necessidade de buscar recursos junto aos governos estadual e federal para quitar as dívidas da instituição.

Já Sérgio Marota (PP) reconheceu as melhorias recentes e lembrou situações passadas em que o hospital enfrentava escassez de insumos básicos, destacando a recuperação da credibilidade junto aos médicos e à população. Enquanto isso, Rogério Fontes (PP) lamentou que a intervenção tenha ocorrido quatro anos após o primeiro pedido da Câmara, avaliando que, se a medida tivesse sido tomada antes, os resultados seriam ainda melhores.

 Assessoria de Comunicação